terça-feira, 20 de agosto de 2013

Afonso Cruz - O Livro do Ano


Desesperada, a passar por dias difíceis em que nenhum livro me apaixona, recorro a um abrigo seguro e refugio-me na melhor descoberta deste ano: Afonso Cruz.

«Nenhum homem é mais alto do que o seu chapéu.
A não ser quando levanta os braços.
Isso acontece quando está feliz.»

É anatomicamente possível levantar os braços enquanto se lê?
Precisava desse movimento, do tanto que me sinto feliz por haver livros assim.
Livros simples que se desfiam em frases, ilustrações e sorrisos. Neste caso, 365 sorrisos. Ou mais. Tantos quantos couberem em todos os dias de um ano real ou imaginado.

domingo, 11 de agosto de 2013

Entrevista a Ondjaki


Quando a Denise me convidou a preparar esta entrevista a quatro mãos, eu nem quis acreditar. À minha frente tinha a oportunidade de perguntar diretamente a Ondjaki algumas dúvidas que me inquietavam, isto se conseguisse livrar-me do embasbacamento tão pouco objetivo de uma leitora emocionalmente envolvida.
O escritor angolano, que publicou recentemente o romance «Os Transparentes», dispensa apresentações, mas nunca é de mais reler o post extraordinário que a Denise fez sobre ele e que foi, afinal, o causador desta entrevista.
Contas feitas, fica para a história a generosidade destas duas pessoas: a da Denise pelo convite e a do Ondjaki pela imensa disponibilidade, neste que é, sem dúvida, o post mais interessante deste blog. Não nos atrasemos, pois, a partilhar o essencial:
 
Inês: Viveu em Luanda, em Lisboa, no Rio de Janeiro. São três cidades diferentes, em três continentes diferentes. Para além da língua, há mais alguma coisa que as una?
Deve haver... Mas são cidades radicalmente diferentes, no tecido humano, paisagístico. Eu realmente não saberia dizer o que as une, porque mesmo a língua parece (e talvez seja) a mesma, mas depois a linguagem e o 'modo de falar' é muito diversificado. Por modo de falar entendo mais do que a fala, também o modo de comunicar, de brincar, de esperar, celebrar. É uma pergunta difícil. Tento responder daqui a dez anos.
 
Denise: Vários escritores brasileiros já foram mencionados como influentes na sua formação (Graciliano, Manoel de Barros, Guimarães Rosa e Clarice). O conto "lábios em lava", da coletânea "e se amanhã o medo", tem como epígrafe um trecho do mexicano Carlos Fuentes. Como é sua relação com a literatura latino-americana? Quais outros escritores latino-americanos foram importantes na sua formação e te inspiram?
Costumo dizer que são mais os livros que os autores. Eu li poucos autores na sua totalidade. Gosto mais de frequentar alguns livros ou mesmo algumas passagens. Posso dizer que li razoavelmente bem Manoel de Barros, mas não posso dizer o mesmo de Clarice ou Guimarães. Eu lembro-me de ter entrado devagar nos contos latino americanos... E de ter pensado, fascinadamente assustado: "nunca mais sairei daqui..." É um pouco verdade. São muitos autores bons da américa latina. São muitos livros, muitos contos. E, para dizer a verdade, é uma grande vertigem. Admitindo que a américa latina não é uma "mancha" literária, e há muitas especificidades, mas a pujança, isso a que quero chamar de vertigem, é poderosa. Ou pelo menos toca-me desse modo. Eu penso que é um pouco o que se passa com o continente africano: as nossas realidades são muitíssimo fortes, fora, totalmente fora dos limites apenas da lógica e do racional. Não são apenas os eventos que são bons para a literatura; o modo de as pessoas interpretarem a vida, de a atravessarem, de fazerem dela matéria para o teatro ou a poesia quotidiana, isso dá material forte para a literatura. Seja fantástica ou não, a literatura vive muito desse "olhar criativo" do que já foi olhado ou vivido pela população. Penso que nesse aspecto alguns autores africanos aproximam-se de autores latino americanos. Isto tudo para dizer que não são necessariamente os nomes, os autores; é mais a "coisa toda", a escrita e até a realidade latino-americana que me fascina. Vivo no Brasil de momento, tenho a oportunidade de viajar aqui dentro, e começo agora a circular mais por outros países. Tenho uma imensa curiosidade por alguns lugares que foram literários e onde é necessário pôr os olhos, o Chile, Colombia, Peru. Há-de chegar esse tempo. Também tenho vivido, não sei porquê, ultimamente, uma enorme ânsia de ir conhecer o Uruguay...
 
Inês: "Quantas madrugadas tem a noite", "E se amanhã o medo", "Dentro de mim faz sul", "Materiais para confecção de um espanador de tristezas". Como é o processo de criação destes títulos que, sozinhos, já têm tanto para contar?
Há títulos que nos chegam desde os primeiros dias de escrita. Ou um pouco antes. Há outros que vêm de dentro, seja da estória ou da boca de algum personagem. "Quantas madrugadas tem a noite" foi dificílimo. Teve outros títulos. De repente vi que já lá estava, numa frase do próprio AdolfoDido. Sobretudo, e acho que não sei explicar isto muito bem, o que busco é ficar bem com o título. Eu. Eu quero ficar em paz com um título, não quero arrepender-me dele uns anos depois. Isto é um compromisso poético, talvez metafísico, entre o livro, o conteúdo, e eu. "Dentro de mim faz Sul" é um dos mais equilibrados nesse sentido. Estamos todos em paz com essa sentença, o livro, o título, eu. Digo tudo isto a brincar, evidentemente. Quem escolhe o título dos meus livros são os mesmos dois vizinhos que os escrevem. Eu limito-me a assinar.
 
Denise: Sabemos da sua predileção pelo conto curto e pela influência de diferentes formas de linguagem nesse gênero. Quais as características mais importantes de um bom conto? Poderia citar alguns dos seus preferidos?
Isso não sei dizer... O conto tem que ser bom. Ponto final. Pode ser curto e bom. Longo e bom. E há estórias menos bem escritas. É evidente que Borges escreveu belíssimos contos. García Márquez também. Não tenho nomes presentes, mas certamente há contos de Borges, Guimarães, García Márquez, Luandino Vieira, Mia Couto, Manuel Rui, que estão entre os meus preferidos. Mas ficam sempre nomes por lembrar. Daqui meia hora a minha resposta seria diferente. Felizmente.
 
Inês: Disse numa entrevista que a história que queria contar é que determinava a técnica linguística utilizada, se recorreria a um estilo mais poético/lírico ou mais coloquial. Se estivesse a escrever a história da sua vida, como seria a linguagem?
Boa tentativa... Ainda não sei. Mas eu já me atrevi, ainda bastante novo, a escrever longos pedaços da história da minha vida. A infância está quase toda mapeada, e algumas (outras) coisas já estão escritas (só não estão ainda publicadas). Há a tendência para ser a voz de "um certo narrador" (do "Bom dia camaradas") a tratar da infância. Mas isso poderá mudar. Realmente escreve-se com a voz possível, com a voz que temos para perseguir uma pequena obsessão. Às vezes um livro é isso, algo que precisamos de contar, algo que temos que tirar de nós. Ou algo que nos acontece sonhar em forma de escrever. Por isso não sei se dá para pensar tanto na linguagem e na técnica. Surge. Sai. Lida-se com isso. E depois logo se vê. Muito se escreve também ao reescrever...
 
Denise: Entre as suas diversas obras (contos, poesias e romances) existe alguma que você tenha um afeto especial? E qual foi a mais difícil de escrever?
Com os livros, por vezes, aparece um lado cruel (não sei se necessário...): estamos incrivelmente ligados a eles e depois, com a finalização ou com a publicação, há um corte. Que dói, e que é necessário. Uns tempos mais tarde, fazemos as pazes. Comigo é assim. Fico farto, zangado, frustrado ou triste nas últimas revisões. Nem sempre o processo é claro, no sentido emocional. Ou seja, movemo-nos em territórios delicados no momento da escrita. E ao sair desses territórios, já não somos os mesmos. Certamente um dos mais difíceis de escrever foi o "madrugadas". Certamente, até ao momento, o mais difícil em todos os aspectos foi "Os transparentes". Ainda não fiz as pazes com ele. E já estamos em 2013...
 
Inês: Eu, sendo portuguesa, experimento algum estranhamento enquanto leio os seus livros, principalmente no que toca a algumas palavras ou expressões que não conheço, muitas delas tipicamente angolanas. Esse estranhamento é, para mim, uma das partes mais marcantes da leitura. Estando a sua obra traduzida para inglês, francês, espanhol, alemão, etc., preocupa-se que, durante o processo da tradução, se possa perder algum desse encanto?
Não se preocupe, eu, enquanto angolano, também sinto (bons ou não) estranhamentos quando leio literatura portuguesa ou brasileira. Faz parte, acho eu, dessa relação dúbia de muita e nenhuma familiaridade com a lingua e as linguagens de "um outro". Quanto às traduções, faço como um dos meus personagens em relação à água fervida: rezo. Rezo para que o resultado seja o menos mau possível, porque a tradução é uma área muito delicada e por melhores que sejam as intenções, o resultado é muito aleatório... Isto é, eu não posso controlar nada. Sugiro pequenas alterações nas duas linguas que posso entender (espanhol e inglês), mas são apenas sugestões pontuais. O sentido da coisa, o ritmo, a brincadeira, a ironia, o jogo, a pausa, são os elementos que dificultam e podem valorizar uma boa tradução. Chamo atenção para isto: os tradutores ocupam-se de uma arte muito elevada, na minha opinião, e são muitíssimo mal pagos. Devia haver manifestações em prol da valorização do trabalho dos tradutores. Estou a falar a sério. Agora, como em todas as profissões, existem bons e menos bons tradutores. Por isso, vou rezar mais um bocadinho...
 
Denise: Em entrevista ao programa entrelinhas você afirma que o olhar sobre a guerra e sobre o passado do seu país nas suas obras procura ser um olhar prospectivo; que pense no futuro de Luanda, de Angola. (Trecho: “Nós que crescemos em Luanda na realidade, apesar das pessoas não saberem, nós fomos os mais sortudos, porque a guerra estava fora de Luanda (...). Então eu tenho muita delicadeza e muito pudor em falar desse período de guerra que era, mas não para nós que estávamos em Luanda. Eu acho que, mesmo para falar da guerra e mesmo para falar do que não está bem em Angola, nós devemos falar numa atitude já pra frente, numa atitude a apontar para o futuro. Se eu não tenho soluções, e evidentemente que não as tenho, pelo menos que o meu tratamento literário seja um tratamento que dê dignidade à situação. Porque há coisas que já são indignas: a guerra é indigna, o sofrimento das crianças é indigno. Eu não posso reforçar aquilo que é indigno”. Ondjaki, programa entrelinhas). Poderia falar um pouco sobre como a literatura pode trazer novo significado para o sofrimento humano e sobre o papel da ficção para o futuro das sociedades?
Eu realmente não sei se a literatura poderá trazer um novo significado para o sofrimento humano... Eu penso que há qualquer coisa de poeticamente misterioso nisso que rodeia um livro. E o que rodeia um livro, somos todos os que vivemos a vida, os que a observamos, os que a escrevemos e os que a lemos, depois, em formato de livro. Isto é, tenho esperança que qualquer pessoa, qualquer velho ou criança, ao ler uma estória, poema ou teatro, esteja por alguns momentos numa condição de leveza. E não é leveza por ser "leve" ou "etéreo": é leveza porque está longe da sua condição quotidiana, contínua, de ser humano, ser social, ocupado, absorto no real. Perto de um livro, às vezes, estamos absortos do irreal, ou do surreal. Digamos, um livro existe mais no momento de ser lido, de ser interpretado. Quieto, ele é um objecto à espera de comunicar, e de ser desejado. Quieto, um livro é um conjunto de papel e letrinhas e ideias. Nas mãos, aos olhos de alguém, esse livro é um mundo, uma arma de imaginação, uma armadilha de desejos, um lugar de dor, fantasia e poesia. Se tudo isto, de vez em quando, em doses mínimas, puder "tocar" a humanidade, seja de que maneira for, então estamos num caminho interessante. Portanto, não sei se é verdade, mas talvez um dos papéis da ficção seja o de aproximar a Humanidade a si mesma. Ou não.
 
Inês: Enquanto luandense, quais as principais diferenças que encontra entre a Luanda da sua infância, descrita, por exemplo, em "Os da minha rua", e a Luanda dos dias de hoje, palco do seu novo romance "Os Transparentes"?
Não leve a mal, mas responder à sua questão é uma mera tentativa de se resumir uma coisa que leva uns bons meses a contar... E umas boas refeições e umas boas cervejas. Levei muito tempo a escrever esses dois livrinhos, sobretudo o último. Parte da sua resposta está em ambos. Parte está na vida, no dia a dia, no modo como hoje se encara a cidade... Somos todos culpados: quem manda, e quem se deixa mandar.
 
Denise: Para quem quer começar a enveredar pelo mundo da literatura africana, quais cinco livros você recomenda?
Seria uma resposta muito difícil...........
 
Inês: Os seus livros estão cheios de referências musicais (Caetano Veloso, Jorge Palma, Adriana Calcanhoto, canções soltas como Trem das Onze entre outras). Há alguma música que lhe provoque «aquela magia de um outro mundo» de "O Assobiador"?
Trecho da obra: «(...) que mexesse não só com o ouvido das pessoas, mas alcançasse, de modo incisivo, a profundidade das suas almas, o recôndito canto onde cada um escondia as suas coisas - essa assustadora gruta a que muitos chamam âmago do ser.»
Há certas músicas, certos momentos musicais de Wim Mertens (pianista belga) e mesmo de Keith Jarrett que já me provocaram altíssimas intensidades poéticas. Boas ou menos boas intensidades. Eu escrevo muito com música, usando territórios emocionais que são causados ou encontrados por via musical.
 
Denise: Uma curiosidade: que livro está lendo agora? E como seleciona suas leituras?
Não sei "como" selecciono... Estou quase sempre a ler poesia, não de modo sistematizado, mas conforme me apetece. Livremente. Mas acabei de reler "Ninguém escreve ao coronel" (García Márquez); li "A indestrutível condição de ter sido" (Helena Terra) e hoje mesmo comecei "Sabina e os manuscritos do Kuíto" (Arnaldo Santos).

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Rosa Montero - A Louca da Casa


A Louca da Casa não é um romance, não é um ensaio, não é com certeza uma biografia, mas tem um bocadinho de todos estes géneros literários. É, no fundo, um exercício sobre a vida e as lembranças de um escritor, a busca de inspiração, a loucura necessária para conviver com milhares de universos na cabeça e dar-lhes vida numa obra de ficção, o processo de criação de uma personagem e a vaidade alienada do autor que tantas vezes se manifesta pela necessidade de se ver lido e apreciado por uma multidão ou exposto em todas as montras de todas as livrarias.
É um livro leve sem ser ligeiro, com citações e excertos biográficos de ilustres autores (Capote, Kafka, Calvino, Tolstói, Vargas Llosa) que acabam muitas vezes por perder a objetividade quando comentados pela autora com algum excesso de parcialidade. Pelo meio, Rosa Montero aproveita para demonstrar a multiplicidade da escrita criativa, explorando o cerne de uma história de três maneiras radicalmente diferentes, para gáudio de uns e desespero de outros.
Fugindo deliberadamente da erudição académica, este livro aconselha-se, sobretudo, a quem gosta de ler ou escrever. Tenha por perto um bloco de notas - se nunca leu alguns dos autores referidos, vai ficar com vontade de o fazer.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Clarice Lispector - Água Viva

 
«Deixo-me acontecer.» E assim nasceu este livro. Não me interessa, por agora, saber se quem se deixa acontecer é a própria autora ou apenas a protagonista de um romance ficcionado. Se for este o caso, para simplificar, daqui para a frente chamar-lhe-ei Clarice.
Mas como comentar racionalmente uma obra quando ela própria não o é?
«Será que isto que estou te escrevendo é atrás do pensamento? Raciocínio é que não é. Quem for capaz de parar de raciocinar - o que é terrivelmente difícil - que me acompanhe.» Tentei. Talvez tenha conseguido algumas vezes, em muitas falhei.
Se escrever sobre Clarice é um exercício difícil, lê-la não o é menos.
Somos arrastados nesta invasão impudica à cabeça de um ser humano, em instantes tão anteriores à formação do pensamento. É um livro orgânico, nascido de um doloroso parto - palavra tantas vezes repetida.
«Eu não tenho enredo de vida? sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver.» E assim vive também esta obra, construída pela união de poesias em prosa, não necessariamente consecutivas. Parágrafos que podem ser lidos aleatoriamente sem que percam o seu propósito. Estas páginas gritam desordem e fragmentação porque essa é a (i)lógica do pensamento.
«Ouve apenas superficialmente o que digo e da falta de sentido nascerá um sentido como de mim nasce inexplicavelmente vida alta e leve. A densa selva de palavras envolve espessamente o que sinto e vivo, e transforma tudo o que sou em alguma coisa minha que fica fora de mim.»
Quantas vezes quis abraçá-la ainda que soubesse que ela repeliria esse abraço.
É tão difícil ler Clarice, mas devia ser tão mais difícil sê-lo.
 
Obrigada à Ju, a maior amante de Clarice que já conheci, que me ofereceu este livro e, sem querer e sem saber, me incutiu urgência em lê-lo.
 
 
Citações:
 
«Vou agora mesmo prestar-te contas daquela primavera que foi bem seca. O rádio estalava ao captar-lhe a estática. A roupa eriçava-se ao largar a eletricidade do corpo e o pente erguia os cabelos imantados - esta era uma dura primavera. Ela estava exausta do inverno e brotava toda elétrica.(...)
Mas eu percebia um primeiro rumor como o de um coração batendo debaixo da terra. Colocava quietamente o ouvido no chão e ouvia o verão abrir caminho por dentro e o meu coração embaixo da terra - "nada! eu não disse nada!" - e sentia a paciente brutalidade com que a terra fechada se abria por dentro em parto, e sabia com que peso de doçura o verão amadurecia cem mil laranjas (...).»
 
«Mas por que esse mal-estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é.»
 
«Criar de si próprio um ser é muito grave. Estou me criando. E andar na escuridão completa à procura de nós mesmos é o que fazemos. Dói. Mas é dor de parto: nasce uma coisa que é. É-se.»
 
«Ah viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir - viver é incômodo.»
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